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Review por: Pablo Cruz Vieira                                                                   14/12/2021

The End of the Fucking World 

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Uma das coisas que adoro sobre livros, filmes e hqs é o fato deles, em grande número, retratarem a época em que são criados. Em vários casos, as obras ficam datadas por não serem suficientemente “universais”. Só o tempo dirá, vai saber. The End of the Fucking World (ou O Fim da Porra Toda, título em português que quase ninguém sabe por que hoje em dia estar em voga manter o título original mesmo sabendo que muitas pessoas não dominam o idioma anglo-saxão) é uma dessas obras que o tempo dirá se será universal ou não. Sinceramente, torço que não seja mas, hoje em dia, a hq é eficiente ao retratar dois adolescentes que vivem em lares disfuncionais, sem perspectivas, perdidos, vagando num mundo niilista.

 

O enredo centra nos jovens James e Alyssa. Ele é uma espécie de aprendiz de psicopata que faz de tudo para sentir algo: quando pequeno, mata pequenos animais, se mutila para ver o que acontece, despreza o pai e, quando conhece Alyssa, espera encontrar o amor (um dos nobres sentimentos humanos) ou, pelo menos, tenta. Do outro lado, conhecemos Alyssa, uma típica adolescente rebelde que, ao conhecer James, acha que encontra seu par perfeito. James, na visão de Alyssa, é um cara ideal por, aparentemente, estar se lixando para as convenções limitantes da nossa sociedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao decidirem vivenciar um relacionamento “próximo” do amoroso, eles abandonam seus lares para embarcarem numa road trip em busca do pai ausente de Alyssa. Nessa viagem, eles entram num espiral de violência que parece não ter mais volta. Policiais, pedofilia, assassinato, traições tornam The End of the Fucking World uma HQ singular, surpreendente por nos alertar que estamos vivendo num Fucking World humanamente perto do fim. A HQ me fez refletir sobre o mundo atual. Estamos cercados de pessoas literalmente perdidas que não têm a mínima ideia do que fazem aqui, não se identificam com a sociedade contemporânea e, o mais importante, não nutrem sentimentos de empatia para com a comunidade na qual está inserida. Quando digo pessoas, é preciso nos incluirmos, afinal, nada que acontece é algo estanque, aleatório. Na verdade, é a criação coletiva de valores que resulta no que estamos vivenciando hoje.

 

O autor Charles Forsman possui o mérito em dar voz a esses personagens mesmo que, em várias passagens, eles não dizem uma única palavra. A narrativa é dividida em capítulos e, de forma alternada, cada capítulo é narrado, ora por James, ora por Alyssa. O traço de Forsman é fortemente influenciado por Mort Walker (criador de Recruta Zero dentre outros), dono de uma arte simples, porém, eficiente em transmitir emoções.

 

Enfim, The End of the Fucking World é uma espécie de graphic novel simples e objetiva, competente em retratar pessoas procurando sentido nesse nosso mundo. Se vai ser uma obra universal que irá perdurar por décadas ou séculos, só o tempo dirá. Mas, pelo menos, essa HQ está servindo de aviso para sabermos se estamos nos sentindo perdidos ou vivenciando uma existência vazia e carente de significados.

 

P.S. (1)Preferi não assistir a série para não influenciar minha opinião sobre o quadrinho mas irei assistir.

 

P.S. (2) Apesar de ser relegado a segundo plano, o título nacional ficou legal: O Fim da Porra Toda. Parabéns ao tradutor porque não é fácil fazer boas adaptações.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

P.S. (3) Engraçado como eles fazem de tudo para vender o quadrinho. Na capa, está em destaque: “Uma Série Original Netflix”. Parece que o quadrinho é uma adaptação da série quando, na verdade, é o oposto.

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