Resenha por: Carlos Elias 28/12/2020
Review por: Jorge Jr. 28/02/2021
Super Amigos
SUPER AMIGOS PARTE 1
Essa história foi publicada em Batman #19, Outubro de 2018, originalmente em Batman #36, fevereiro de 2018.
Poderia ser qualquer outra pessoa , num escritório ou em qualquer outro lugar de trabalho que seja, atendendo um telefonema da esposa ou da namorada, mas Superman é Superman, Clark Kent é um disfarce para andar entre os mortais e o que seria mais comum na rotina de trabalho do Superman do que salvar um trem desgovernado? Tom King usa o cliché repetido em inúmeras histórias para representar a rotina do cotidiano, não importa o contexto da ação, ela é apenas pano de fundo para o diálogo, apenas para sabermos que se tratam de super-heróis. Lois Lane ao telefone cobra de Clark Kent que ligue para Bruce Wayne e que se lembre que são amigos. Para contextualizar quem não está acompanhando Batman do Tom King, você só precisa saber que Bruce Wayne e Selina Kyle (Mulher-gato) vão se casar. Agora Batman, também em um de seus clichés, atravessa uma claraboia para trocar socos com uma gangue de figurantes, mais uma vez a ação não é importante, Selina também liga para Bruce cobrando uma ligação para Clark.
Quando Selina diz achar que Clark era o seu amigo mais próximo, Bruce tenta dizer que Gordon ou Alfred são seus amigos mais próximos, mas Selina lembra a Bruce que Gordon não sabe nem o seu nome e Alfred recebe dinheiro para fazer o que faz.
Pelo comportamento dos dois, poderíamos supor que a resistência em ligarem um para o outro poderia ser por um orgulho infantil e como sempre, bem mais maduras, as garotas tentam colocar juízo em suas cabeças, afinal eles já confiaram suas vidas um ao outro inúmeras vezes, um conhece a identidade secreta do outro, como não seriam amigos?
Inclusive esse é o tema de uma das piadas, as duas supõem que o motivo da resistência seja a identidade secreta de Clark, Louis comenta como ele decidiu esconder a sua identidade apenas colocando um par de óculos e mudando o penteado e Selina aponta justamente essa ingenuidade, afinal todo leitor de quadrinhos é obrigado a aceitar que todos no universo DC possuem algum déficit intelectual que os impedem de reconhecerem Clark Kent como Superman e que os corretores de imóveis dos vilões de Gothan são os mais incompetentes do planeta, todos os esconderijos continuam tendo claraboias. A verdade é que não poderíamos estar mais errados, os dois revelam porque existe essa resistência, nenhum dos dois se acha digno da amizade do outro, sem dúvida essa é a melhor parte do roteiro, eles explicam porque admiram um ao outro e porque se sentem insignificantes moralmente em relação ao outro.
Clark conta como mesmo com o trauma da morte dos pais, mesmo sem superpoderes, Bruce escolheu fazer o que faz. Já Bruce conta que mesmo Clark sendo o sobrevivente de um holocausto, e tendo poder para destruir o mundo, ele se tornou o que é.
Acontece que por algum motivo sem importância, já que eu não estava prestando atenção na investigação criminosa de fundo, os dois casais se encontram no mesmo andar de um prédio e Clark propõe um encontro de casais, mas não antes de nocautearem uma dupla de vilões sem importância, King os nomeia duplo X provavelmente para enfatizar suas insignificâncias e antes do nocaute um diz ao outro os seus bordões originais de mais de meio século, “A vingança é a noite?”, “Para o alto e avante?”.
A simetria dos diálogos é acompanhada pela arte fantástica do Clay Mann, o estilo me lembra o Jim Lee, até a diagramação é idêntica para os dois casais até eles se encontrarem.
As cores ficam por parte de Jordie Bellaire que eu não sei se é homem ou se é mulher, só sei que se você pronunciou certo, rolou uma rima, ele ou ela carrega um pouco mais de amarelo e vermelho no super-casal e um pouco de azul e lilás no casal das trevas, mas é bem discreto e não é uma regra.
SUPER AMIGOS PARTE 2
Essa história foi publicada em Batman #20, Novembro 2018, originalmente em Batman #37, fevereiro de 2018.
Essa segunda e última parte do arco superamigos continua com a mesma equipe criativa, mas se na primeira parte a história dá ênfase aos sentimentos e atributos que Clark e Bruce percebem um no outro, a segunda parte foca no humor de situações. O primeiro quadro já nos coloca no clima de humor. Criado pelo Bill Finger em 1959, o Batmirim era um duende da quinta dimensão e sempre apareceu nos quadrinhos e desenhos como um personagem cômico. Os Super-gêmeos criados pela Hanna Barbera no desenho Superamigos aparecem exatamente como os conhecemos, o menino, um idiota inútil e a menina, uma gatinha de cintura fina. A dupla sempre foi ridicularizada pelos poderes bestas, principalmente o menino, sugiro um vídeo do Porta dos Fundos – “Setor de RH, Supergêmeos.” * A menina aparece dando uns amassos no Homem-Borracha e um Lanterna Verde dá uma conferida na lanternagem da Mulher Maravilha.
Acontece que o local do encontro de casais esperado há 78 anos sugerido por Clark seria num parque de diversões, mas é noite dos super-heróis e só pode entrar quem está fantasiado. O mau humor de Bruce e sua resistência em se divertir em Gotham durante a noite é bem retratado quando ele consegue a princípio resistir à sedução de Selina em ficarem e arranjarem uma solução, os uniformes estão com eles, mas será que não ficariam muito parecidos? A solução é trocar de uniformes. Destaco a arte dos vestiários, com Clay mostrando as cicatrizes de batalha de Bruce enquanto Clark apresenta uma pele lisa de bebê e a forma como a dupla feminina é retratada nos faz lembrar que não estamos lendo um material da Marvel, vemos também a assinatura Mr. King no vestiário feminino, quer dizer, no vestiário unissex que está sendo usado por Lois. Clark tenta ser simpático e ceder certa intimidade explicando que o “S” do uniforme significa esperança e Bruce com seu mau humor pragmático responde que o morcego significa morcego. Apenas Selina está sem uniforme, mas o seu superpoder é justamente o da persuasão sobre os homens e o menino do balde d’água* é um alvo fácil. Tom King é genial apontando as idiossincrasias dos personagens, Bruce está comendo um salgado e comenta que terá que chutar muitas árvores para perder essas calorias extras, imediatamente vem em nossa memória o treino de Bruce em “Ano Um” de Frank Miller com os desenhos de David Mazzucchelli, os comentários a seguir são engraçados por não manterem ligação nenhuma com a situação da referência.
Batman Renascimento #20 e Batman Ano Um.
Bruce e Clark se comportam como garotos competindo para ver quem é o melhor em tudo e a questão é se Bruce seria capaz de rebater um arremesso de Clark, Clark querendo se exibir em jogos de força e Lois o controlando. Enquanto isso as garotas se conhecem e filosofam sobre o conceito de caráter e racionalizam o motivo de se encontrarem em um relacionamento com um super-herói.
No fim o título se concretiza e eles parecem reconhecer a amizade entre os dois, apesar da negação rabugenta de Bruce, eles se divertiram e as garotas combinam repetirem a dose, finalmente eles decidem descobrir se Bruce é capaz de rebater um arremesso de Clark, para saber o resultado, só lendo o quadrinho, mas o nome escrito na capa dá uma boa pista.
A arte continua muito boa, mas é possível perceber o truque que está cada vez mais recorrente nas HQs, quadros com desenhos repetidos mudando-se apenas alguns traços, as cores e os diálogos.