Resenha por: Carlos Elias 28/12/2020
Review por: Jorge Jr. 16/09/2020
O Brejo e o Destemido
Batman #23
Tom King e Mitch Gerards, a mesma dupla criativa dos excelentes “Xerife da Babilônia” e “Senhor Milagre” agora nos apresentam O Brejo e o Destemido, o título original dessa edição (The Brave and the Mold) foi uma referência a um título clássico da DC (The Brave and the Bold), traduzido no Brasil como O Bravo e o Destemido, título que já apresentou alguns crossovers entre o Monstro do Pântano e o Batman, e essa historia é mais um deles. De vez em quando entre dois runs ou para dar um folga aos desenhistas e arte-finalistas titulares, temos historietas de uma única edição, nessa ocasião somos agraciados por uma pequena pérola de vinte páginas fora da continuidade vigente da série.
O Monstro do Pântano foi criado por Len Wein e Bernie Wrightson, mas a importância que o personagem tem hoje é responsabilidade do gênio Alan Moore, e na primeira página vemos um velho barbudo que se parece bastante com o velho mago ser assassinado com dois tiros na cabeça e a dupla se incumbira de resolver o crime.
As histórias do Monstro de Moore (que são as que eu conheço) são envoltas em terror, mistério e no sobrenatural. Tom King começa apresentando um mistério, mas o terror da aparição inesperada de um monstro vegetal com mais de dois metros de altura é apresentada com bom humor. Outra situação cômica é quando Alfred segue o rastro do Monstro pela mansão limpando terra e pedaços de vegetação que se desprendem do gigante verde, fica evidente o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) do mordomo que também é a única explicação de como sozinho ele consegue manter impecável uma mansão do tamanho da Mansão Wayne, Bruce como sempre insensível e mimado é incapaz de guardar uma simples xícara.
A investigação cria uma identificação entre os dois personagens, a vítima era o pai biológico de Alec Holland, o homem que a planta gigante pensa ser, (eu disse que Alan Moore era um gênio e não que era fácil entender). Os dois conversam numa sala onde podemos ver três quadros, um mais frequente que retrata Thomas, Martha e o filho Bruce Wayne. Outro provavelmente é o retrato de Darius Wayne, irmão fictício do General Anthony Wayne, personagem real da história americana, herói da Guerra contra os ingleses e que foi uma das referências que Bill Finger usou para criar o nome de Bruce Wayne. No terceiro quadro temos Dick Grason, Tim Drake, Damian Wayne, Alfred e Bruce, quadro esse que podemos ver sendo pintado na edição #10 de Batman e Robin dos Novos 52, tudo o que Bruce considera ser sua família.
Mas o Monstro considerava o homem morto parte de sua família? Bruce quer saber por que ele apareceu, mas ele não sabe, para Alec, vida e morte são a mesma coisa, o ciclo da vida, o contrato verde, o equilíbrio da natureza e toda a visão naturalista em que Alan Moore ambientalizou o Monstro do Pântano é bem representado por King.
A investigação aponta para um mercenário chamado Caçador de Cabeças, mais uma vez King resgata da cronologia um personagem praticamente esquecido que só apareceu uma única vez. Por sorte descobri que tenho a versão que saiu pela Abril em 1994 onde esse personagem aparece, digo sorte porque essa história originalmente saiu em Batman #487 e junto com outra história sobre Bane, saiu aqui em Super Power #32 com a capa de Batman #666, todas faziam parte da saga “A Queda do Morcego”.
O Caçador é encontrado no Museu de Arte de Gotham admirando um quadro de William Turner chamado “Vapor Numa Tempestade de Neve” de 1842, reza a lenda que Turner amarrou-se ao mastro de um navio durante uma tempestade e foi essa experiência que inspirou o quadro. Talvez ele represente a luta do homem contra a natureza, não quero dizer que represente o Caçador contra o Monstro do Pântano, e sim o conflito espiritual interno que o “Elemental do Verde” trava com sua mente incompativelmente humana. Do lado esquerdo o retrato do filósofo persa Avicena e do lado direito podemos ver a metade de um quadro, mesmo sem poder vê-lo por completo podemos reconhecer um dos papas de Francis Bacon, e quem conhece o artista, sabe que violência, sangue e corpos dilacerados são temas comuns em suas obras, uma pista do que viria a seguir. O ódio e o desejo de vingança do homem são mais fortes do que a filosofia zen da planta que anda e o Caçador em fim conhece o terror do Monstro, Batman não pode fazer nada para impedir o assassinato, assim como veio o monstro se vai e não há nada que alguém pudesse fazer para impedir a vingança do monstro.
Em 1989 o Coringa de Jack Nicholson e sua gangue invadiram o Museu de Arte de Gotham e começaram a vandalizar obras de Velásquez, Rembrandt, Renoir, Degas, Vermeer e Edward Hopper, mas Francis Bacon foi poupado, é compreensível a simpatia do palhaço psicopata pelo artista que também desconstrói os clássicos, e é por causa dessa simpatia que ainda hoje podemos ver essa obra no Museu de Arte de Gotham*.
*https://www.youtube.com/watch?v=FgbafvZ-HyM&t=9s
Sugestões:
Batman 1989 Tim Burton.
Mr. Turner de Mike Leigh.
Super Power #32 1994 Abril.
A Saga do Monstro do Pântano de Alan Moore.